Uma jornalista americana,
Judith Newman, resolveu fazer um minucioso dossiê dos prós e contras de se
tomar remédios para disfunção erétil. Como parte do estudo pretendido fazer era
empírica, ela teve de recorrer à ajuda do marido, que se submeteu ao uso do
Viagra para chegar a algumas conclusões. Baseada neste caso e em entrevistas
com casais e especialistas, Judith traçou um rico perfil do impacto social
destes medicamentos.
A reação imediata do marido
da jornalista, que nunca havia precisado de Viagra, foi de medo: e se ele não
conseguisse mais voltar a ter ereções sem o remédio quando parasse de usar?
Judith assegurou que se tratava de uma lenda, já que o uso do Viagra não
implica em dependência. Isso de fato acabou não acontecendo: uma semana depois
de interromper o uso, o esposo dela já havia recuperado o antigo ritmo sexual,
segundo ela. Ponto para o comprimido.
Mas nem tudo são flores.
Para começar, a própria bula do remédio já especifica que pode haver dores de
cabeça e do estômago. A principal raiz do problema que Judith levantou, no
entanto, é sobre avaliar causas e efeitos do uso dos medicamentos (além do
Viagra, os mais famosos no mercado são Levitra e Cialis, e juntos eles compões
uma indústria que movimenta mais de um bilhão de dólares) para os casais.
O medicamento pode ser mais
nocivo para a saúde do que se imagina. As interferências em vasos sanguíneos já
o tornam contra-indicado para quem tem problemas cardíacos. Existem outras
coisas, além do comprimido, que podem alargar os vasos. Entre elas, está a
nitroglicerina (remédio perigoso, ministrado em doses ínfimas), mas também
coisas comuns, como bronzeamento ao sol e bebidas. Alcoólatras precisam ter
cuidado redobrado antes de se aventurar com Viagra.
A título de conhecimento,
uma descrição básica sobre o funcionamento do medicamento. O pênis atinge a
ereção através do aporte de sangue nos vasos sanguíneos que o compõem. Com a
idade ou algum problema de disfunção, estes vasos tendem a se estreitar (a
rigor, todos os vasos sanguíneos do corpo se estreitam, não apenas os do
pênis), o que dificulta a ereção. Tudo o que as pílulas fazem é inibir a enzima
responsável por esse estreitamento, de modo que a dilatação dos vasos ocorre
mais facilmente e dura mais tempo.
Além disso, o remédio também
diminui o “descanso” entre um orgasmo e outro. Isso, por si só, já pode
implicar em um problema, porque nem sempre a mulher (que afinal também sofre
mudanças no corpo com a idade) “acompanha” o novo ritmo sexual do homem. Médicos
ressaltam que o uso do Viagra deve ser tomado em comum acordo entre o casal,
porque a mulher pode simplesmente não desejar mais sexo. Existe, de fato, uma
“obrigação social” de que o homem tome uma providência caso não esteja
atingindo ereções.
Mesmo que a mulher deseje o
sexo, as mudanças corporais posteriores à menopausa podem ser um problema. A
diminuição da lubrificação vaginal, por exemplo, pode tornar o sexo intenso –
que não seria obtido por um homem da mesma idade em condições naturais – muito
mais dolorido. As mulheres mais velhas, de maneira geral, querem vinte, no
máximo trinta minutos de relação sexual, e não uma maratona de duas horas. Além
do desconforto, podem haver problemas ainda mais graves, tais como feridas na
vagina e exposição direta a DSTs.
Falando em desejo sexual,
existe outro mito a ser derrubado: o Viagra não aumenta a libido do homem. A
jornalista cita um caso engraçado de um casal americano. Insatisfeito com seu
“baixo aproveitamento”, o marido foi ao médico, que lhe receitou Viagra. Apesar
de ter seguido à risca a orientação de tomar a pílula uma hora antes, ela não
funcionou. O motivo? Durante esta uma hora, ele ficou assistindo um jogo de
baseball enquanto ela esperava ansiosa, no quarto. A lição disso é que o Viagra
deve ser tomado apenas se houver desejo, e pode ser prejudicial quando não
houver.
Em busca de se adequar ao
poder de fogo recém-adquirido pelo marido, algumas esposas recorrem a algumas
práticas onde a medicina ainda tem pouca experiência, tais como a reconstituição
vaginal, além de implantes de silicone e outras cirurgias plásticas. Se ela não
fizer isso, segundo alguns psicólogos, aumentam as chances de a mulher ficar
com auto-estima piorada e temer que o homem busque experiências extraconjugais
que possam satisfazê-lo.
A jornalista afirma não
estar desaconselhando ninguém a considerar o uso do Viagra. Afinal segundo ela,
estudos recentes indicam que o homem pode acabar com a depressão graças ao
Viagra. Isso porque os remédios antidepressivos inibem a ereção, e o Viagra
restaura essa função. Voltando a ter vida sexual satisfatória, o homem pode
simplesmente abandonar a depressão de forma “natural”. Entre 15% e 25% dos
homens na faixa dos sessenta precisa de Viagra, e essa taxa fica em 5% para
homens em seus quarenta anos.
O que Judith Newman
aconselha é que não haja hipocrisia: qualquer mentira que vise disfarçar a
situação real é considerada nociva. Se a mulher acha que precisa de
lubrificante para tornar o sexo mais confortável, deve comprá-lo, se ela
prefere apenas cinco minutos de sexo ao invés de uma hora, deve dizê-lo. A
pílula da ereção, em resumo, deve ser tomada quando for “honesta”.
Publicado por Bruno Calzavara
Disponível em: http://hypescience.com/razoes-para-pensar-duas-vezes-antes-de-tomar-viagra/